Muitos de nós passamos um bom tempo no trabalho, olhando pela janela e contando os dias para chegar as férias que foram marcadas meses antes. Mas e se houvesse um jeito de estar no trabalho…de férias? Parece bom? É o primeiro passo para tornar-se um nômade digital.
O estilo de vida dos nômades digitais, de viajar o mundo e trabalhar de qualquer lugar, é de fato muito atraente – então por que tão pouca gente faz isso? Para entender melhor o que exatamente são os nômades digitais, o que eles fazem e como se tornar um, conversamos com Felicia Hargarten.
Felicia e seu parceiro Marcus Meurer são os fundadores do movimento global Digital Nomad DNX. Juntos, eles começaram o maior evento para empreendedores independentes de localização, a DNX – Digital Nomad Conference (Conferência de Nômades Digitais), e organizam regularmente Coworking and Coliving DNX CAMPS (camps de cooperação e coexistência) em alguns dos lugares mais lindos do mundo. Esse ano, o evento acontecerá em Jericoacoara, no Ceará!
O que são nômades digitais?
Nômades digitais são pessoas que adoram viajar o mundo e trabalhar de qualquer lugar. Tudo que precisam é de um laptop e uma conexão de internet estável. Porém, não se pode confundir com os mochileiros ou pessoas que fazem uma viagem de volta ao mundo: os nômades viajam devagar, vivem como um local – e, sim, trabalham de verdade.
Os nômades digitais podem ser divididos em três grupos: freelancers (trabalham para clientes e ainda trocam o tempo por dinheiro); empreendedores (criam produtos ou serviços rentáveis mas trabalham de qualquer lugar); e trabalhadores remotos (funcionários normais, mas com um tipo de trabalho que pode ser feito de qualquer lugar).
Como se tornar um nômade digital, e quais são os empregos mais comuns?
Você precisa ter conhecimento de como criar websites e páginas, de SEO, redes sociais, publicidade online, marketing de conteúdo, vendas online, email marketing, comunidades e criação de produtos e serviços. Claro, é sempre possível terceirizar o que você não é especializado ou que não gosta muito de fazer. Dependendo das suas habilidades, você pode tanto começar como um freelancer ou começar a vender seu próprio produto ou serviço digital, e também focar no tráfego do seu site para atingir potenciais clientes.
Se você não tem ideia de como começar, tente completar a lista abaixo:
- Quais são as minhas habilidades/no que eu sou bom?
- O que eu adoro fazer?
- Tem algum problema que outras pessoas têm e eu posso resolver?
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Quando foi seu momento “eureka”, onde você percebeu que o estilo de vida de um nômade digital era pra você?
Nunca foi um plano – mais uma feliz coincidência, na verdade. Eu estudava Administração de Eventos & Turismo, antes de trabalhar para o mundo corporativo das 9h às 17h, em Düsseldorf e Berlim. Meu namorado estava trabalhando com start-ups em Berlim, algo que ele achou muito inspirador – ao ponto que ele quis se tornar autônomo. Eu queria viajar mais, então um dia, em uma viagem, nós percebemos que não só podíamos trabalhar de qualquer lugar, mas que nossas habilidades eram uma combinação perfeita.
Foi quando decidimos trabalhar juntos e continuar viajando. Começamos fazendo freelas por quatro anos, levando alguns clientes da nossa rede de contatos na cena de start-ups e de marketing online em que estávamos envolvidos antes.
Houve alguma dificuldade para se adaptar a sua nova vida?
Nossa principal dificuldade era de sempre criar a infraestrutura certa em um novo lugar para sermos produtivos. Hoje somos bem rápidos com isso: onde podemos trabalhar? Onde podemos viver? Onde conseguir um chip de celular local? Onde podemos comprar comida saudável e fazer esportes?
Para ajudar na produtividade, construímos uma rotina diária e usamos alguns aplicativos e truques (que a gente compartilha no nosso Podcast DNX Podcast, Life Hackz).
Você gasta muito tempo planejando suas viagens, ou simplesmente escolhe um lugar e se muda?
Eu simplesmente escolho um lugar e vou. Mas posso planejar um pouco antes e adaptar meus planos, se necessário. O estilo de vida de nômades digitais pode ser um tanto inconsistente, então é importante planejar até certo ponto, senão você se desgasta rapidamente.
Pensando de maneira inspiradora e prática, o que faz de um lugar um bom destino para nômades digitais?
Pra mim, um destino bom é um lugar remoto, tipo uma ilha – e não uma cidade grande. Amo estar perto do mar e fazer kitesurf. Por ser vegana, preciso de opções suficientes para comer saudável, e claro que a conexão de internet precisa ser estável também. Adoro estar rodeada por gente que pensa como eu, mas também integrados à comunidade local.
Como a vida de nômade digital incentivou você a se engajar com os moradores locais nas suas viagens?
Você com certeza se envolve mais com os locais e desenvolve uma conexão maior com eles como um nômade, se comparado com ser apenas um turista. Você passa mais tempo em um mesmo lugar, então tem a chance de conhecê-los melhor. Como é a cultura deles? Quais as suas dificuldades? Qual é a visão de mundo deles? O que temos em comum?
Como é a comunidade dos nômades digitais?
A comunidade de nômades digitais é bastante forte, especialmente nas nossas conferências DNX e nos DNX CAMPS. É uma comunidade super ativa e criativa, repleta de gente incrível e pronta para ajudar os outros e compartilhar suas experiências e conhecimento.
O que esse estilo de vida te ensinou sobre o mundo?
Eu aprendi que muita gente por aí está “desperta”. Eles entendem que os nossos sistemas antigos já não funcionam mais para a humanidade. Elas estão dispostas a trabalhar para um futuro onde o mundo terá de volta seu equilíbrio interno e se tornará um lugar de paz. Não é só a maneira como a gente trabalha que mudou – há muito mais: educação, religião, economia, saúde, ciência e o Estado como um todo.
Nós podemos criar nossa própria realidade – afinal, tudo que existe hoje foi também criado por outros. Você tem uma escolha em toda ação que pratica. Já existe muita gente por aí que faz coisas incríveis, só precisamos aprender como nos conectarmos e colaborar para que as coisas aconteçam.
O que o nomadismo digital te ensinou sobre você mesma?
Me fez mais consciente – não apenas sobre os diferentes aspectos da vida, mas também sobre mim mesma. Quem sou eu? Com o que eu sonho e do que eu sou capaz?
Qual o fato mais importante que você aprendeu graças ao seu estilo de vida?
As pessoas do mundo todo são todas do mesmo universo. Elas enfrentam os mesmos problemas e têm os mesmos medos e desejos. O mundo é muito mais pacífico e respeitoso do que a mídia nos conta, e nós podemos encontrar uma conexão comum com as pessoas que encontramos pelo caminho.