Viagens acessíveis é um tema importante, mas sobre o qual pouca gente fala. A Laura é uma dessas pessoas que acreditam que viajar deve ser uma atividade para todos, por isso ela compartilha nas suas redes sociais e no blog Cadeira Voadora a sua experiência de viajar em uma cadeira de rodas. Confira o nosso papo com ela.
1. O que viajar representa para você?
Viajar pra mim é algo além de lazer e entretenimento, parte de uma necessidade interna de expandir meu conhecimento do mundo e minha capacidade de compreensão. Eu sinto a necessidade de compreender o mundo, as pessoas à minha volta e a mim mesma, e assim criar novas formas de ver a vida. As formas que eu conheço não me satisfazem, e viajar é uma atividade que me faz expandir e sair da minha zona de conforto. Eu não gosto dessa coisa turística de ficar de ponto em ponto, gosto de passar 10 dias em cada cidade porque é o mínimo pra gente conhece as pessoas, conversar com elas, e aprender com aquela comunidade.
2. Quando e qual foi o destino para onde você viajou sozinha pela primeira vez?
Minha primeira viagem sozinha foi para o Rio de Janeiro. Evidentemente, no Brasil é muito mais fácil porque você entende a cultura e a língua. Quando você faz uma viagem internacional, precisa entender como as coisas funcionam, mas para os lugares onde fui, as pessoas estavam preparadas para entender uma pessoa que viaja sozinha.
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3. Por que você viaja sozinha? Como isso te enriquece?
Eu viajo de todos os jeitos, mas às vezes não encontro companhia naquela época em que gosto de viajar, porque nunca viajo em alta temporada, e vou sozinha. Também viajo sozinha porque gosto da aventura de experimentar. Há três anos experimentei um intercâmbio, também viajo sozinha para congressos, cursos, e já namorei à distância, por isso viajava para encontrar com o namorado.
Viajar sozinha me coloca mais desafios, mas ao mesmo tempo, tenho mais possibilidades de fazer as coisas que eu gosto. Quando viajamos com outra pessoa, precisamos negociar o tempo todo, uma hora fazemos uma coisa que gostamos, e outra hora fazemos o que a pessoa gosta. Sozinha, só gerenciamos a nossa vontade e ganhamos liberdade. Talvez quem não tenha tanto amor pela liberdade não compreenda. Também acho fascinante a interação com outras pessoas. Quando eu estou acompanhada, ninguém se aproxima, mas quando estou sozinha sim, todo mundo se aproxima. São experiências diferentes, e eu gosto das duas.
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4. Na sua opinião, quais são os maiores desafios de viajar sozinha e como você lida com eles?
Se vou viajar sozinha, escolho um destino mais acessível, então acho que esse é o maior desafio. Eu nunca tive problemas com segurança e saúde, mas costumo tomar cuidado com a hora que retorno, com os bairros que visito. Tem também o problema da viagem aérea. Por ser cadeirante, eu preciso chamar um comissário de voo para me ajudar a chegar até o banheiro do avião, e tenho percebido uma diminuição no número de comissários em algumas companhias. Quando este é o caso, normalmente peço à pessoa que está ao meu lado para localizar um comissário para mim. Por isso, procuro sempre aprender outras línguas para me comunicar com outros passageiros. Já me comunico em inglês, francês e espanhol. Às vezes também tem a questão do espaço, de banheiros muito pequenos dentro da aeronave.
5. Quais são os seus conselhos para organizar uma viagem sozinha?
Para um cadeirante ou não cadeirante, eu acho que o mais importante é planejamento. No meu caso, eu me preocupo muito com segurança, não sou uma viajante aventureira, e não gosto de ir em uma cidade onde eu me sinta insegura. O meu conselho com relação à segurança é decidir com antecedência o destino e fazer um planejamento bem feito. Eu pesquiso com antecedência, por exemplo, onde encontro um banheiro adaptado na cidade para onde estou viajando, onde encontro um restaurante, que horas o metrô para de funcionar… Também pesquiso sempre as dicas dos blogueiros mais confiáveis para não correr riscos.
6. Qual é o destino perfeito para uma viagem sozinha e por quê?
No caso dos cadeirantes, um destino que tenha mais acessibilidade. No caso das mulheres, um destino onde elas se sintam seguras, mas acho que isso serve para qualquer pessoa que viaja sozinha. Qualquer pessoa precisa se preocupar com a sua segurança. Como destinos com mais acessibilidade eu diria Londres, Nova York, ou um spa ou resort adaptados no Brasil.
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7. Conte algo que aconteceu numa das suas viagens que impactou a maneira como você viaja.
Uma vez eu fui abordada de forma suspeita em um shopping, o engraçado é que eu não estava sozinha nessa viagem, mas estava sozinha neste momento. Então eu percebi que não é o fato de estar sozinha ou não que te deixa exposta em uma viagem, mas a falta de planejamento e conhecimento de como a cidade funciona.
8. Como é percebido no Brasil o fato de uma mulher viajar sozinha?
Eu acho que por ser cadeirante eu talvez tenha uma percepção diferente. Normalmente as pessoas são protetoras comigo.
9. Quais são suas dicas para outras viajantes com deficiência ou mobilidade reduzida?
Verificar as condições de acessibilidade do lugar para onde quer viajar. Sempre consulte blogueiros confiáveis, tenham eles deficiência ou não. Eu valorizo muito os blogs. Já encaminhei perguntas para eles em algumas situações e os bons blogueiros fazem questão de te mandar uma mensagem. A pessoa vira até sua amiga. Quem tem amor por viagem, vai te passar as informações corretas.
10. Você acha que o setor turístico poderia fazer melhorias quando o tema é acessibilidade? Quais?
Principalmente no Brasil, precisamos valorizar mais o turismo em geral. Às vezes os museus estão acessíveis, mas há dificuldade no transporte, na calçada, para encontrar uma acomodação acessível. Já encontrei também problemas no exterior, alguns até maiores que no Brasil, por isso sempre procuro confirmar as informações que leio na internet.
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11. Para que estilo de mulher você acha que a viagem sozinha é perfeita?
Eu acho que para as mulheres que têm sede de liberdade. Isso não quer dizer que outras pessoas não possam tentar como um desafio, mas a viagem sozinha é para quem tem autonomia e coragem.
12. O que diria para inspirar outras mulheres a viajarem sozinhas?
Eu diria que elas tentem. Seja qual for a personalidade da mulher, viajar sozinha vai fazer com que ela seja mais autônoma. Viajar sozinha é extremamente empoderador.
*Mais informações sobre as viagens da Laura no blog Cadeira Voadora.
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