Entre os ventos do Atlântico Norte, as Hébridas Exteriores da Escócia e a fascinante Islândia, aparece um conjunto intocado de ilhas e com cara de conto de fadas: as Ilhas Faroé. Pequenas e remotas sim, mas com paisagens dramáticas e cultura peculiar que fazem das Ilhas Faroé um destino imperdível para ter na sua bucket list de viagens.
O povo de Faroé: vikings por natureza, simpáticos de coração
Gigantescas rochas de basalto e vistas infinitas do Oceano Atlântico não parecem muito aconchegantes? Pois foi lá que os vikings noruegueses adotaram como casa, quando chegaram pela primeira vez às terras faroenses no século 9. Se comparado à persistência, autonomia e carisma dos moradores atuais das Ilhas Faroé, não chega a ser surpresa saber da ascendência viking dessa população.
Os faroenses possuem um modo de vida bastante peculiar, seja pela típica dança em corrente acompanhada por baladas vocais, seja pelas famosas carnes fermentadas ou pelo adorado esporte nacional, a corrida de barcos – eles sabem como manter a tradição viva por lá.
Enquanto o mundo está ocupado sincronizando dispositivos e hábitos, essa pequena comunidade faz questão de ser old-school. As casas com grama no telhado são aparadas por ovelhas, naturalmente, e as ilhas possuem um total de três semáforos, todos na capital Tórshavn. O povo faroense também mantém um íntimo relacionamento com a natureza. São pescadores apaixonados e bem treinados, sabem cozinhar muito bem e dão aulas sobre o ambiente rochoso que os cercam.
Não nos deixe sozinhos com as ovelhas
Com uma paisagem que engloba 18 ilhas e penhascos dramáticos, vales verdejanes e pântanos sem árvores, a natureza de Faroé é ao mesmo tempo desafiadora e inspiradora. As ilhas são separadas por sondas e fiordes estreitos, e tem uma população de pouco menos de 50.000 habitantes, espalhados por 17 das ilhas. Em uma delas, a ilha de Stóra Dímun, vivem apenas sete pessoas. Apesar da geografia remota, as ilhas são surpreendetemente acessíveis – a apenas duas horas de voo de diversas grandes cidades do norte da Europa.
É comum ver rebanhos de ovelhas vagando pelas ilhas. Elas estão por toda parte, mesmo nos mais íngremes terrenos rochosos. Ninguém sabe como elas conseguem fazer isso, e raramente vê-se uma delas caindo do alto das planícies.
Algumas ilhas são acessíveis via pontes ou túneis, outras apenas por balsa ou helicóptero. Aliás, viajar de helicóptero pode soar como uma solução extravagante, mas os preços são bem mais acessíveis do que se imagina, e acaba tornando-se um ótimo meio de transporte de locações mais remotas, como a linda ilha de Mykines. Mykines é reconhecida por sua diversificada população de pássaros, incluindo pelicanos, fulmares, papagaios-do-mar e ostreiros, o pássaro nacional faroense.
Entrecortando as rochas
Entrecortando pradarias naturais, penhascos e despenhadeiros incrivelmente íngremes, as estradas de Faroé são sinônimo de adrenalina por si só. As distâncias são pequenas e não é preciso traçar itinerários – apenas passeie por entre os vales e os pequenos vilarejos e siga seu coração.
O mar nunca está a mais do que poucos minutos de distância. Basta seguir a estrada principal e descer em alguma das estradinhas laterais para se deparar com margens, colinas e vales repletos de vilarejos e casinhas multicoloridas cobertas de grama.
Um dos vilarejos locais favoritos é a idílica Saksun, na parte norte da ilha de Streymoy, com suas pequenas casas pretas e um lindo lago à beira do oceano. Não deixe também de visitar a vila de Gjógv, na ilha Eysturoy, com um dos mais belos portos que você verá na vida.
Outro local imperdível é a espetacular cachoeira de Bøsdalafossur, oriunda do lago Leitisvatn diretamente para o oceano. Apesar de sua magnitude, é quase como uma joia escondida – ir e voltar requer uma trilha de 5km, e leva cerca de duas horas. Estacione o carro no vilarejo de Miðvág e siga a estrada à direita da igreja que leva para a antiga trilha Ovaragøta. Ela o levará para a cachoeira e o majestoso penhasco Trælanípan, onde escravos debilitados eram abandonados no passado.
Apenas um homem e seu barco
Pescar é uma paixão intensa nas Ilhas Faroé, e seus moradores são sempre generosos e dispostos a compartilhar dicas. Um passeio com um barco de pesca local é das mais incríveis experiências, dando uma oportunidade para ver a paisagem grandiosa desde o mar e testemunhar um dos componentes vitais da cultura faroense.
Para ter uma aventura completa, reserve um passeio com Magni Blástein, um pescador local que opera um pequeno barco que sai da cidade de Vestmanna, na ilha principal de Streymoy. Navegando por entre as ilhas, Magni é garantia tanto de dicas úteis para pescar quanto de boa companhia. Vale a pena participar mesmo se não estiver a fim de pescar – apenas jogue umas linhas pela diversão.
Cruzar o mar é uma aventura por si só, mas há diversas oportunidades ótimas par pescar em terra firme também.
Siga para a capital de Tórshavn para a loja de equipamentos de pesca de Jóghvan Weihe, Stiðjagøta 10. Não deixe de visitar o lago Leynavatn em Streymoy, onde não faltam trutas e salmões à disposição. Pescar em Leynavatn requer uma licença especial, que pode ser obtida no posto de gasolina EFFO, no vilarejo vizinho de Kollafjørður.
Tours e experiências fascinantes
Para uma aventura mais, digamos, veloz, pelo mar, escolha um tour de velocidade pelas cavernas com Rib62, onde o barco chega a 60 nós. Ao chegar nas cavernas, o barco diminui o ritmo para não afugentar os pássaros.
Outra ótima experiência para navegar é assistir a um concerto de músicos locais em uma caverna, com Nordlysid, ou escolher a oporadora Skuvadal para diferentes ilhas de Faroé, seja no interior das cavernas profundas de Vestmanna ou um dia de passeios pela bela ilha de Mykines.
Para ainda mais ação, siga para o vilarejo de Norðradalur, na costa oeste de Streymoy. O local é rodeado de penhascos profundos com vistas espetaculares da ilha de Koltur, além de um impressionante muro de basalto, adorado pelos alpinistas de plantão.
Se aventuras submarinas é a sua praia, Faroe Dive disponibiliza tours guiados de mergulho, enquanto North Atlantic Experience organiza tours de caiaque, barco e caminhadas para os mais intrépidos.
Pratos com personalidade própria
Além de pescar, se há uma coisa que os faroenses gostam de se dedicar para valer, é na comida. Isolados das tradições culinárias europeias, eles desenvolveram técnicas extraordinárias para preservar os sabores, sempre valorizando ao máximo seus recursos.
Naturalmente, os ingredientes são extraídos diretamente da natureza ao redor, e eles aprenderam como utilizar absolutamente tudo do que caçam ou pescam, incluindo olhos e língua das ovelhas. As técnicas de fermentação, em particular, têm recebido atenção especial, incluindo a primeira estrela Michelin para um restaurante das Ilhas Faroé – o Koks. Eles aperfeiçoaram o sabor “ræst” local, um tipo especial de fermentação, e servem pratos à base de produtos locais, como o bacalhau com agrião, ou o cordeiro com cogumelos.
Para uma versão mais moderna da culinária faroense, confira um dos quatro restaurantes Heima í Havn’s, cada com oferecendo um conceito próprio da gastronomia local. Ou ainda melhor, faça um home-dining, ou seja, jante com uma família local, que é certamente a melhor maneira de experimentar a cultura regional – os faroenses são hospitaleiros e adoram contar histórias.
As quatro estações em um dia
O clima nas ilhas Faroé tem vida própria. A reputação de muito vento e chuva é verdadeira, portanto biquínis e óculos de sol raramente são necessários. Mas o clima é surpreendemente ameno, na faixa média dos 13 graus durante o verão e 3 graus no inverno, uma das temperaturas mais altas dentre os países nórdicos no inverno. A sensação, porém, poderá ser bem diferente!
Mudanças na topografia, altitude e correntes oceânicas tornam o clima bastante inconstante, variando de local para local, e mesmo de uma hora para a outra. Em resumo, é possível que você vivencie as quatro estações em um só dia.
Se tamanha variação não lhe agrada muito, recomenda-se viajar no verão – as chances de ver um solzinho e tempo limpo são maiores. Ou então, encarne o viking que existe em você e encare o desafio!
Cuidado com o Huldufólk!
Tudo bem que clima é, em geral, questão de gosto e preferência, mas é algo a ser considerado de fato para quem pensa em sair desbravando a natureza de Faroé. São paisagens absolutamente fascinantes e imponentes, mas a neblina pode chegar a qualquer momento, e com penhascos tão íngremes e que acabam abruptamente, vale sempre prestar muita atenção onde exatamente você está para não se perder.
E, mais ainda, cuidado para não dar de cara com o famoso “huldufólk”, espécie mítica de super-humanos com cabelos negros e roupas cinzas que assombram as lendas faroenses. Dizem que eles vivem dentro das pedras das colinas e saem quando a neblina toma conta para empurrar aqueles que vagam sozinhos pelos penhascos.
Tórshavn – uma das menores capitais do mundo
Sua aventura faroense não estará completa sem passar um dia ou dois na capital Tórshavn, localizada na ponta sul da ilha de Streymoy. A cidade antiga de Tórshavn, que corre à beira do porto, é dos locais mais bonitos, com casas pintadas em uma bela paleta de sombras.
Tórshavn também conta com ótimos pequenos cafés, restaurantes e lojas. Visite a loja principal da Guðrun & Guðrun’s para ver as novidades em artigos de lã, incluindo o famoso tipo de blusão usado pela personagem Sarah Lund, na série de TV dinamarquesa The Killing. Por fim, aprecie a profunda herança artística do país na galeria nacional Listasavn Føroya e na Nordic House.
Uma dica de expert: para aproveitar Tórshavn ao máximo, visite a cidade durante o Ólavsøka – o maior festival de verão celebrado todos os anos nos dias 28 e 29 de julho, durante o feriado nacional. Nesses dias, as ruas são tomadas pelos faroenses vestidos em trajes típicos, que dançam, assistem às bandas locais e participam da gloriosa corrida de barcos.
Como se vê, não existe um lugar ruim nas Ilhas Faroé, mas se quiser ficar em Tórshavn, o Hotel Føroyar oferece vistas maravilhosas da cidade e do fiorde Nólsoyarfjørður.
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